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05/07/2011

O MIRANTE GEOCÊNTRICO

Não conseguia imaginar um ponto de observação astronômico melhor que aquele. Com aquele céu límpido pontilhado de estrelas era impossível não ter a ilusão perfeita de estar no centro de uma gigantesca abóbada, observando o resultado de um mecanismo oculto atrás de uma parede inatingível. Mas havia uma mancha de cor leitosa dividindo em duas esta abóbada de absoluto breu, pontilhada aqui e ali por pontos luminosos isolados: era a via-láctea. Em pleno século XXI, logicamente eu sabia que não estava observando aquilo tudo do centro de coisa alguma. Mas naquele lugar especial era até possível entender porque nós, seres humanos tão orgulhosos de nossa racionalidade, demoramos tanto tempo até compreender que estávamos errados na interpretação daquilo que víamos na "abóbada celeste".

Havia uma grama aconchegante cobrindo toda aquela planície. Árvores mais altas, de copas densas, cercavam aquele meio-círculo coberto de grama, exceto por duas trilhas que entravam por entre estas árvores, uma de cada lado do semicírculo. À frente, direção oeste, havia uma cerca. Além desta cerca, um precipício. A cerca era bem frágil, e ficava óbvio que sua finalidade não era realmente a de impedir que alguém caísse no tal precipício caso estivesse determinado a isto. Ela só estava lá para lembrar que havia um precipício neste lugar, que dificilmente seria percebido de outra forma. Ao se aproximar desta cerca baixa, que mal chegava à altura da cintura, via-se lá embaixo uma praia cercada de altos paredões rochosos dos dois lados. Em frente se via o horizonte do oceano, onde neste exato momento aparecia um dos últimos pedaços dourados do sol. Um pouco antes das cercas que avisavam daquele mortal precipício havia um banco de madeira, praticamente no meio do semicírculo cercado pelas árvores. Sim, havia uma simetria quase artificial naquele mirante que reforçava ainda mais a ilusão de se estar observando o céu a partir do centro de uma esfera cósmica.

Quando a vi chegando pela primeira vez daquela trilha da direita eu estava observando a estrela alfa de Órion, a gigante vermelha Betelgeuse. Fazia observações a olho nu, algo bastante natural naquela situação em particular, de céu tão límpido à beira do mar. Por isto fiquei bastante intrigado vendo aquela criatura chegar com todo seu aparato mecânico. Mas aquele local de observação comportava sem problema algum dois observadores, de modo que neste primeiro encontro fiquei quieto no meu canto, fazendo minhas observações, enquanto ela fazia as dela a alguma distância. Bom, admito que minha timidez também contribuiu para que a aproximação não tivesse ocorrido desta primeira vez.

No dia seguinte ela voltou com todo o seu aparato: astrolábio, telescópio, bússola... Para mim bastava uma carta celeste e uma lanterna. Na verdade a lanterna era quase desnecessária, pois havia uma lua cheia formidável naquela noite! Isto me motivou a deixar um pouco de lado a procura de estrelas de baixa magnitude para observar os detalhes da superfície lunar, por muito tempo confundidos com mares e oceanos. Notei que ela também se ocupava da mesma tarefa, porém com a inestimável ajuda do jogo de lentes de seu telescópio. Trocamos alguns olhares, mas continuamos cada um em seu canto fazendo as próprias observações astronômicas. E assim foram mais dois, três, quatro dias.

No quinto dia ela chegou antes de mim. Não me lembrava muito bem se eu havia chegado pela trilha da direita ou da esquerda naquele mirante. Ou melhor... sim, definitivamente vim pela da direita, a que ela sempre havia tomado nos dias anteriores. Se não fosse assim, com certeza não teria passado por ela ao chegar. Desta vez eu trazia um binóculo, numa esperança remota de ver a débil mancha de um novo cometa no céu, recentemente descoberto. Como sempre nos últimos dias, o céu estava límpido. Com alguma sorte, eu conseguiria ver alguma coisa pelo meu modesto binóculo.

- Ah! Também resolveu se render à tecnologia?

Demorei um pouco para notar que ela havia me dito algo, e um pouco mais para entender o que dizia. Lembrando do binóculo que trazia pendurado ao pescoço, retribui com um sorriso. Olhei bem para ela: era uma moça bem bonita! Pensei: "Será que é astrônoma, ou estudante de astronomia?" Olhei para o equipamento que ela trazia para observação e logo percebi a idiotice de minha pergunta: "Não ela não estuda astronomia nada!! Esse telescópio que ela trás aqui é para caçar borboleta..." Ainda bem que esta pergunta ficou só em pensamento! Nunca me perdoaria se parecesse um imbecil logo na primeira meia dúzia de palavras que trocasse com aquela desconhecida. Achei melhor permanecer em silêncio pelo menos mais aquela vez, e fui para meu canto habitual de observação enquando ela permaneceu no dela. Para falar a verdade, desta vez eu fiquei um pouco mais perto dela do que o habitual.

Cerca de 2 horas da manhã, e o cometa alvo de minha observação deveria agora estar no zênite. Terminei de comer meu lanche de sanduíche de atum e olhei para cima, pelo meu binóculo. Sabia que ele deveria estar a cerca de um quarto de grau daquela estrela, mas por mais que procurasse não consegui ver o mínimo brilho de sua cauda. Nada! Foi frustrante. Percebi que ela também não estava obtendo resultados, mesmo com um equipamento bem mais potente. Se ela nada estava conseguindo com aquele caro telescópio, que chance eu tinha de ver algo com este binóculo barato? Mas continuei tentando a noite toda por pura teimosia. Lógico que não vi nada. Ela havia percebido meu desapontamento, pois tentou me consolar:

- Ainda está muito longe hoje! Amanhã ele vai estar mais perto da Terra, então será mais brilhante. Talvez tenhamos mais sorte...

Não respondi nada de novo, temendo falar qualquer besteira. É incrível como um rosto bonito é capaz de nos deixar mudos! Mas respondi sorrindo com o olhar, concordando que amanhã teríamos melhores resultados.

...............................

Voltei no dias seguinte por volta de 8 horas da noite. Aquele astro errante cruzava o céu a uma velocidade vertiginosa, de tal forma que ele deveria aparecer hoje nascendo por detrás das copas das árvores daquele semicírculo por volta de 10 horas da noite. Havia pouco tempo para eu fazer um rápido lanche e fixar uma pequena luneta ao tripé, que achava mais apropriado para a observação do que aquele ridículo binóculo da noite anterior. Ela chegou por volta de 15 para as 9 horas, pela trilha de sempre. Mas desta vez estava mais atrapalhada em trazer o equipamento, e logo percebi o porquê: ela trazia dois telescópios! Montou tudo, comeu rapidamente um lanche que tirara da mochila, e então se dirigiu a mim:

- Acho que você não vai conseguir enxergar nada nesta lunetinha aí. Te trouxe um telescópio!

Lutei violentamente contra a gagueira, mas finalmente respondi:

- Obrigado!

Era um excelente equipamento, possuindo até mesmo um servomecanismo programável capaz de corrigir a rotação da terra para acompanhar seu alvo no céu. O cometa foi pontual! Mas que observação ridícula, não é mesmo? Por que não seria? Felizmente consegui evitar de vocalizar também este comentário. Não sei, talvez não tenha conseguido evitar e tenha pensado alto, pois a ouvi dizer:

- Por que ele atrasaria? Acha que o cometa seria louco em desrespeitar uma ordem de Sir Isaac Newton? - e me abre um sorriso maravilhoso.

- Não, lógico que não! - foi o que me limitei a responder, evitando fazer qualquer outro comentário infeliz.

Ela havia ajustado muito bem o servomecanismo dos telescópios, pois por várias horas ele seguiu perfeitamente no céu aquela mancha tênue do cometa corrigindo a rotação da terra, sem que nunca a imagem desviasse do centro da ocular do equipamento. Percebi que ela não era apenas uma observadora de estrelas amadora como eu, mas que deveria ter uma prática diária com isto. Tomei coragem e perguntei:

- Você estuda astronomia?

- Estudei. Hoje trabalho com isto. Sou astrônoma profissional.

- Eu desconfiava que sim. Sabe, quando te vi chegando com os telescópios... - ops! meu desconfiômetro de comentários cretinos disparou neste momento. Tentei emendar uma pergunta para mudar de assunto: - Qual o seu nome?

- Ágata.

Me pareceu que ela completaria com "E o seu?", mas não o fez. Na verdade, pareceu que seu sorriso se apagou por um breve instante. Mas senti um alívio enorme por ela não ter perguntado isto, porque... eu não lembrava!!! Não é a coisa mais idiota do mundo? Que garota era esta capaz de me balançar tanto a ponto de me escapar, por uns momentos, meu próprio nome? Eu simplesmente não me lembrava qual era o meu nome naquela hora, e teria ficado numa situação muito embaraçosa se Ágata tivesse me perguntado isto. Felizmente ela não perguntou. Mas mesmo assim, também fiquei intrigado em entender por que ela NÃO PERGUNTOU. Não seria a continuação esperada daquele diálogo, em que dois desconhecidos se apresentam?

- É estranho perceber que nos dias de hoje ainda se descobre cometas assim, vindo sem aviso nenhum, não é? - tentei mudar de assunto. Ela pareceu aliviada com a mudança.

- Sim, este cometa é bem particular. Normalmente se procura cometas ou asteróides novos que tenham órbitas bem próximas do plano da eclíptica. Mas este é diferente, a órbita dele é quase perpendicular ao plano da eclíptica. Ninguém espera encontrar cometas vindo desta direção, e foi por isso que demorou tanto para alguém perceber que ele estava perto.

Me aproximei novamente da ocular do telescópio para observá-lo.

- Espero que não caia na nossa cabeça! - ah não! aqui estou eu de novo falando besteiras....

- Fica tranqüilo, isso não vai acontecer. - abrindo o olho direito um pouco, o que não estava na ocular do telescópio, percebo que Ágata tenta tocar minha mão. Mas vejo que ela recua, e também acho melhor não comentar nada.

Havia algo particular naquele cometa: parecia ter duas caudas. Deveria comentar isto com ela? Estava claro que elas existiam, não podia estar vendo coisas. Tomei coragem:

Estranho, parece que ele tem duas caudas.

Ele tem sim, não é tão raro isto acontecer.

Uma cauda brilhante apontava na direção contrária daquela onde deveria estar osol. Outra, um pouco menor, se desviava numa curva.

- A mais brilhante é iônica, feita de partículas carregadas eletricamente e repelidas pela força do vento solar. A que faz uma curva é de poeira bem fina, deslocadas pela pressão dos raios solares. Ela se curva porque a força de repulsão é bem mais fraca.

- Pressão da luz? Isto é novidade para mim...

- Não dá para perceber aqui, a atmosfera é densa demais para isto ser observável. Mas em ambiente de quase vácuo é perceptível, apesar de fraco. Já ouviu falar da idéia de veleiros interestelares?

- Naves que seriam capazes de se mover com o vento solar?

- Não, estes são os veleiros solares. Dentro do sistema solar faz mais sentido usar estes mesmo, pois a força do vento solar é bem maior que a pressão da luz. Mas entre as estrelas, onde os efeitos do vento solar seriam irrisórios, a idéia é ser mesmo empurrado pela luz, usando a pressão dos fótons colidindo numa superfície refletora gigantesca. O efeito é pequeno, mas constante e de graça. Se não existir muita pressa em chegar ao destino, é a forma ideal de se viajar entre as estrelas.

A noite continuou com nós especulando vários meios de se transportar pelo espaço num futuro próximo, ou distante... Talvez distante demais, mas era bom poder sonhar com eles. Não percebi o tempo passando, nem como acabou, como e quando ela foi embora, como voltei... Mas achei incrível poder discutir estas idéias malucas com mais alguém.

.........................

A passagem daquele cometa realmente havia sido muito rápida, de forma que no dia seguinte ele já estava tão longe da Terra que nem o telescópio de Ágata ela capaz de torná-lo visível. Eu ainda não me sentia bem à vontade com Ágata, mas ela já se mostrava bastante falante. Era mesmo entusiasmada com seu trabalho, falava de suas pesquisas com exoplanetas, as técnicas para detectá-los, a descoberta de anãs marrons extremamente frias...

- A temperatura na superfície destas estrelas é apenas um pouco maior que a da água fervente. Até mesmo mercúrio, um minúsculo planeta do nosso sistema solar, é mais quente que este tipo de estrela.

Apesar de bastante interessado pelo assunto, minhas observações eram meramente as de um amador. Era fascinante poder discutir sobre estes assuntos com uma pessoa que realmente fazia daquilo sua profissão.

- Mas você trabalha de dia?

- Sim, por quê?

- Como vê as estrelas? - perguntei, já desconfiando que era uma pergunta idiota.

- Trabalho em radioastronomia, bobinho! Não preciso usar meus olhos para isto. Uso os olhos do computador. - e abre aquele sorriso que já começava a me conquistar de uma forma que já parecia sem retorno.

- Ah, entendo! Então observar estrelas aqui é só um hobby...

- É.

Que grande coincidência termos escolhido aquele mesmo lugar para nossas observações!

- Trabalha de dia, e durante a noite vem aqui ver as estrelas da maneira antiga.

- Isso mesmo!

- E quando é que você dorme?

Ágata fecha o rosto. Percebi que acabara de fazer uma pergunta impertinente, embora não soubesse exatamente em que ponto ela era embaraçosa.

- Desculpa, não é da minha conta...

- Não é isso. É que... - ela está confusa. - Ah, esquece!!

Me parece que ela está desesperada para mudar de assunto ao comentar:

- É possível que fiquemos sem noites por algumas semanas, daqui a uns 10 ou 20 anos.

- Como assim?

- Venho estudando nos últimos meses uma possível candidata a supernovaa estrela Eta Carinae. Está muito instável atualmente, a variação de brilho dela já acontece em questão de dias.

Não sabia do fato. E fiquei realmente preocupado!

- Corremos risco?

- Fica tranqüilo, está distante demais! Talvez corramos o risco de passar um ou dois meses sofrendo de uma insônia terrível, pois especula-se que durante a explosão ela vá iluminar nossas noites com o brilho de umas 10 luas cheias. Talvez tenha ocorrido o mesmo fenômeno uns 2000 anos atrás com outra supernova, que conhecemos hoje como a Estrela de Belém.

- E vai acontecer quando?

- Ainda não temos como saber, mesmo porque nunca foi observado o fenômeno nos tempos modernos. Mas as teorias atuais sobre o ciclo de vida das esdtrelas nos dão certa segurança que vai acontecer em algum instante dentro das próximas décadas. Mas certeza do dia exato... isto ainda não podemos determinar. Existe uma incerteza quanto a massa exata desta estrela para que possamos fazer um cálculo mais preciso.

- Gostaria de ainda estar por aqui para observar isto.

- Como astrônoma, eu também sonho com isto. Nem que já esteja usando bengala quando acontecer!

- Posso vir aqui neste mirante com você, para observarmos isto juntos.

Juro que falei isto sem pensar, só para continuar o assunto. De forma alguma foi uma tentativa de cantada, mas percebi que Ágata ficou sem graça. E sorriu:

- He he, eu de bengala, e você de andador.

Foi esta a primeira vez que aconteceu aquele fenômeno do carrilhão. Pensando bem, é possível que tenha ocorrido na noite anterior também e eu não tenha percebido. Começava com um tênue som de sinos distantes, que crescia progressivamente até se tornar ensurdecedor. O som se tornava tão intenso a ponto de perceber claramente que perdia a consciência. Não lembro de nada que aconteceu em seguida.

...........................

No dia seguinte Ágata me encontrou sentando no banco de madeira no centro do semicírculo do mirante. O sol começava a tocar a linha de oceano no horizonte oeste à nossa frente. As cores do céu à sua volta começavam a descer o espectro luminoso com o passar do tempo, primeiro amarelo, depois laranja, vermelho intenso. Ela sentou-se ao meu lado quieta, também estava observando aquele belo arrebol. Os pontos brilhantes apareciam à medida em que o céu escurecia, com o sol mergulhando nas águas. Mas que besteira, é lógico que ele não estava mergulhando em água nenhuma! Ainda bem que só pensei nisto, e não falei tal besteira em voz alta para que fosse ouvida por uma astrônoma profissional.

Ainda estava vívida em minhas lembranças o “apagão” da noite anterior. Que teria acontecido? Esperava que Ágata me dissesse algo, mas dela não veio nenhum comentário. Eu teria desmaiado? Como saí de lá? Não me lembrava. Mais ainda: como havia chegado hoje naquele mirante, naquele banco, observando o por do sol? Me lembrava muito menos ainda... Mas não quis incomodar Ágata com isto. Sentia que, se algo importante tivesse acontecido, ela comentaria. Ou será que me escondia algo? Teria eu algum problema neurológico? Não, ela comentaria imediatamente se tivesse ocorrido algo grave, para minha própria segurança. Olhei para o lado: ela parecia especialmente bonita hoje! Amanhã eu pergunto a ela o que aconteceu. Hoje não. Seria imperdoável estragar aquele momento.

- Você não trouxe seus equipamentos hoje, não é?

Ela me olhou com ternura.

- Hoje não, eles só atrapalhariam. Hoje vim observar você...

Engasguei. Por favor, não pensem que sou machista, mas é que realmente não estou acostumado a ver uma garota tomando tal iniciativa, lançando uma cantada destas. Me pegou de surpresa!

- Ah, mas tem coisa bem mais interessante para observar aqui na nossa frente, não acha?

O último pedaço no topo do sol acabava de mergulhar nas águas. A lua não havia ainda surgido, de modo que escureceu rápido. Percebi que, pouco a pouco, Ágata tentava encostar em mim. Ou será que era eu que o fazia? Ou ambos? Não importa. Era noite completa quando percebi que estávamos lado a lado. Ambos indecisos, com medo de ser ousado demais, mas ao mesmo tempo torcendo para que o outro tomasse a iniciativa. Isso durou minutos, mas foi interrompido por uma coincidência incrível!

Lembram que o sol havia acabado de sumir no horizonte? Pois daquele exato ponto começa a surgir um segundo clarão, mas agora era pálido ao invés de dourado. Aos poucos surgiu o topo de um círculo cor de prata, subindo pouco a pouco e iluminando a escuridão de minutos atrás: era a lua cheia nascendo poucos minutos após o sol de por. Quanta coincidência! Não pude conter meu instinto poético observando o fenômeno, e comentei com Ágata:

- Olha só! Parece até que o disco dourado do sol mergulhou no mar e, purificado com o banho, agora sai dele como o disco cor de prata da lua cheia! Que sorte isto acontecer justo hoje, não acha, Ágata?

A beleza do espetáculo não havia me deixado perceber, mas Ágata já não estava encostada em mim. Olhei para seu rosto, e ela estava pálida, gelada! Não entendi nada...

- Calma, calma. Tem uma explicação, meu querido.

- Explicação para que, Ágata? É a coisa mais bonita que já vi! E quanta coincidência isto ter acontecido justo quando nós...

Como num bote, Ágata me envolve em seus braços e me beija. Mas é estranho, não sinto paixão neste beijo, parece mais como se ela tenta-se me calar, cortar o assunto... Não, estou imaginando coisas. É um “cala a boca” sim. É ela me dizendo “Para de falar besteiras e me beija, seu banana!”. Resolvo não pensar mais no assunto, naquela metamorfose solar, e aproveitar o momento. Enfim, foi ela então quem tomou a iniciativa!

Meu coração está disparado quando começa a aparecer ao fundo aquele som que vai se tornar tão odiado nos dias seguintes: o carrilhão essurdecedor daqueles sinos. Seria conseqüência da emoção do momento? Não sei, o fato é que tudo se repete: o carrilhão aumenta até se tornar ensurdecedor, e depois disto mergulho mais uma vez no nada...

.............................

Na noite seguinte chego por volta das 23 horas no mirante. Ágata já está lá. Deitada na grama, olha para cima, e tento descobrir qual a direção.

- Demorou hoje! – seu rosto está radiante.

- Nada de telescópios de novo?

- Não, bastam meus próprios olhos para ver isto. – e aponta para cima.

Concordo que os olhos delas bastam, embora por outro motivo. Deito ao seu lado, tentando localizar o ponto que ela aponta. E realmente era algo maravilhoso!

- Caramba! Nunca tinha percebido isto!

- Ora, você nunca prestou atenção! Sempre esteve lá...

Era realmente espetacular! Via-se nitidamente o centro brilhante, e em volta dele os braços em espiral ocupando quase a extensão de uma lua cheia! Como nunca havia percebido antes a nossa vizinha cósmica, a galáxia de Andrômeda?

- Parece até que a vejo girar!

- Não seja bobo, você está vendo coisas. Está parada no céu, como sempre esteve.

Passaram-se alguns minutos em que ficamos observando o fenômeno de mãos dadas. Como é possível eu nunca ter percebido algo tão fantástico deste tipo no céu?

- Sempre esteve aí? Ou é algo recente?

- Esse tipo de coisa é muito grande, um aglomerado de bilhões de estrelas. Não aparece de um dia para o outro. Lógico que sempre esteve aí, pelo menos no nos últimos milhões de anos.

- Mas falo sério, nunca notei mesmo!

A ilusão de que girava era realmente muito forte!

- Posso jurar que esta coisa está girando.

- Deixa de besteira, querido. Um aglomerado de estrela destes demora milhões de anos para mudar de uma forma perceptível.

- Sei lá, acho que deve ser uma ilusão de ótica.

- Com certeza!

- É que esses braços, esta forma de espiral... deve ser isto.

Sinto Ágata soltar minha mão bruscamente, e se sentar:

- Espirais? O que você está vendo?!

- Ora, nossa vizinha! A galáxia de Adrômeda!

- Ninguém vê Andrômeda a olho nu! Não com esses detalhes.

- Ora, está na minha frente, onde você me apontou!

Ela fica em pé num sobressalto.

- NÃO! Você vê coisas! Isto não é Andrômeda! É a Grande Nuvem de Magalhães!

- Mas Ágata, estou vendo as espirais da galáxia, e... – não consigo entender a reação tão violenta que ela teve.

- Por que é que você sempre insiste em ver coisas que não existem, hein? Por quê? POR QUÊ?? POR QUÊ??!! – lágrimas começam a escorrer de seu rosto.

- O que eu fiz??

Ela chora, e soluça incontrolavelmente.

- Por que isto? Pra que estragar tudo logo agora??

Ela sai em disparada por uma das trilhas. Eu estou confuso demais para ir atrás dela. Continuo deitado com minhas dúvidas, olhando para cima, para a galáxia de Andrômeda.

- Não entendo. Estas espirais, e tudo mais. Lógico que conheço as nuvens de Magalhães, e não são elas que estou vendo agora.

Continuo olhando para cima, para a galáxia em espiral que agora claramente me parece girando! Estou vendo coisas? Tem algo a ver com aquele maldito carrilhão que me apaga todas as noites? Teria eu algum grave problema que Ágata está tentando me esconder? Sem respostas, continuo olhando fixo para a espiral. De repente surge uma mancha em seu lugar! Que maravilha! Teria voltado ao normal,e estaria agora observando a Grande Nuvem de Magalhães, como esperado? Não, pouco depois surge de novo a galáxia espiral. A mancha eram apenas as lágrimas que nasciam em meus olhos deformando a imagem, que torna-se de novo a maldita espiral assim que as lágrimas escorrem pela minha face. Penso em me levantar logo e ir atrás de Ágata, mentir que realmente eu estava enganado, que não havia galáxia nenhuma na direção para onde eu olhava, mas o barulho do carrilhão ao fundo apaga totalmente qualquer vontade. Agora sei muito bem como isto terminaria.

............................

Esperei Ágata muito tempo na noite seguinte. Deveriam ser 3 ou 4 da manhã quando a vi surgir por uma das trilhas entre as árvores. Estava resolvido a perguntar do estranho Fenômeno Carrilhão, como já o havia batizado. Mas também queria me desculpar, ou quem sabe fosse até melhor fazer de conta que nada aconteceu, que eu realmente via coisas, inventar alguma desculpa... Estava realmente perdido. Mas novamente foi ela quem começou com as explicações:

- Querido, eu gostaria mesmo de me desculpar por ontem. Não deveria ter ficado tão nervosa.

- Tudo bem, não me importo. – mas era mentira, me importava sim! Mas seria esta a melhor hora de lhe dizer isto?

Deitou-se no centro do semicírculo, e me chamou para ficar do seu lado.

- Não está tão brilhante hoje como estava ontem.

Olhei para cima: a Grande Nuvem de Magalhães! Nenhum sinal da galáxia espiral da noite anterior!

- Ágata, acho que estou com um problema.

Ela põe os dedos em meus lábios, para que eu me cale.

- Psiu! Nada de problemas hoje!

- Mas é que ontem...

- Amanhã! Me fale disso amanhã!

- Mas tem um som...

- Agora só ouço o som do mar lá embaixo.

Tudo conspirava para aquele desfecho: a grama macia, a temperatura agradável, o som das ondas na praia lá embaixo. Para que estragar tudo com meus problemas? Eles podiam esperar mais um dia. Nos amamos intensamente naquele final de madrugada, até começarem a aparecer os primeiros raios de sol no horizonte à nossa frente. Era o final perfeito daquela noite, até o momento em que comecei a ouvir, mais uma vez, o som do carrilhão daqueles malditos sinos...

....................................

Não dava para esperar um dia mais, eu precisava saber o que acontecia comigo. Antes mesmo de cumprimentar Ágata, já a alvejei com a pergunta:

- Ágata, que aconteceu comigo ontem?

Ela sorriu. Estaria vendo coisas, ou o sorriso parecia forçado?

- Ora, o que aconteceu conosco você quer dizer... Não lembra?

Sorri de volta. O meu era verdadeiro.

- Lógico que sim, foi maravilhoso.

Mas não podia deixar que ela desviasse o assunto agora que havia me decidido a esclarecê-lo.

- Digo depois. Está me escondendo algo para me proteger? Tive algum ataque epiléptico, ou coisa do tipo que você não queira me contar?

Ela empalideceu no mesmo instante.

- Nã...não! Claro que não! Eu lhe diria...

- Então o que foi?

- Que foi o quê? Nada aconteceu depois! Poderia esquecer isto? Nos amamos, adormecemos...

- E depois?

- Depois? Ora...

- Não me lembro do que aconteceu depois!

Ágata tenta me abraçar, mas agora está claro que é mais uma tentativa de encerrar a discussão.

- Eu preciso saber, Ágata! Se for algo grave, quanto antes me tratar é melhor.

- Você está inventando coisas de novo!!! PARE COM ISSO!! – percebo que novamente ela começa a perder a razão.

- Não foi a primeira vez! Na verdade, lembrando agora, parece que isto acontece sempre!

- Esquece isto, querido! Está começando algo tão bonito entre a gente! Pra que criar problemas?

- Está tudo meio estranho, Ágata! – aponto para cima.- Esta nebulosa, por exemplo, a Nuvem de Magalhães. Lembra que brigamos feio por causa dela.

- Por favor, não volte neste assunto.

- Agora vejo a mancha que ela sempre foi. Mas no dia podia jurar estar vendo uma galáxia espiral. Entenda, posso estar tendo alucinações. Talvez seja algo curável.

- Por favor, PARE!!

- E aquele por do sol? De repente te percebi gelada, não entendi nada! Uma coincidência tão bonita...

Ela cai de joelhos. Está em prantos.

- Este lugar, você, eu... Por favor, não quero que acabe! Esquece estas coisas, querido!

- Quem sou eu, Ágata?

- Quê?

- Meu nome. Qual é? Não me lembro.

- Ora, deixa de bobagens!

- Nunca te contei qual é, sabe por quê? Por que não sei!

- Lógico que sabe, você me disse!

- Não disse! Que pessoa normal esquece o próprio nome? Entende a gravidade do problema? E tem aquele som que sempre ouço, um carrilhão. Você ouve também?

Nunca havia feito tempo ruim naquele Mirante Geocêntrico, mas naquele instante nuvens começavam a fechar o céu. Ágata me agarra em desespero, e começa a me beijar.

- Nada disso importa, querido. Só eu e você.

- Diga meu nome.

- Quê?

- Ágata, diga meu nome, por favor!

Ela se afasta, cabeça baixa.

- Ora, é...

- Qual meu nome, Ágata??

Ela foge em desespero. Mas desta vez eu a sigo. Entro pela trilha entre as árvores, mas pareço estar num pesadelo estranho: ela não leva a lugar nenhum! Perdido num labirinto, nem chego ao seu objetivo nem consigo voltar para o mirante, por onde entrei nele. Ágata está sempre á minha frente, mas sempre fora de meu alcance. O som dos trovões fica cada vez mais intenso, e pela primeira vez uma tempestade cai sobre aquele local de céu sempre límpido. Demoro para perceber, mas enfim, sobressaindo-se ao rugir dos trovões, o ensurdecedor carrilhão fica bem claro. Do que aconteceu depois, nada sei.

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“Andrômeda... Quanta idiotice, Ágata!!”


Ágata não conseguia se concentrar em seu trabalho no observatório naquele dia. A imagem da galáxia espiral brilhava na tela de seu monitor.


“Burra! Isso que dá querer enfeitar demais as coisas!” Ela não conseguia se perdoar. “Logo agora que estava indo tudo tão bem...”


Por mais estranho que pudesse parecer, ela estava vivendo um romance. Talvez o maior de sua vida, embora ela nem mesmo soubesse o nome de seu namorado. Como é que por um detalhe tão ridículo ela talvez tenha colocado tudo a perder? Todo mundo tem um nome, não é? Ele não podia ser uma exceção.


Ela suspirava de paixão. Definitivamente, ela não seria capaz de se concentrar no trabalho aquela tarde. Eta Carinae podia esperar mais um dia, certamente a supernova não iria explodir hoje. Agora ela precisava era voltar para casa e pensar numa maneira de consertar a besteira que iniciou.


Enquanto voltava, via o sol se pondo na direção oeste. Então lembrou-se:“Não, Ágata! Isto realmente foi imperdoável! Ele não é burro, vai acabar percebendo isto! Como explicar isto a ele?” Ele quem? Apertou o passo. Sim, precisava voltar logo para casa e bolar uma boa explicação para aquilo tudo.


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Permaneci uma ou duas horas sentado no banco, relembrando todos os fatos. As reações de Ágata, como nos conhecemos, meus apagões de memória... Fora este último detalhe, tudo parecia irritantemente perfeito! Havia conhecido a garota de minha vida, astrônoma, com quem podia passar horas e horas discutindo sobre um assunto que também era outra paixão de minha vida. Era bom demais para ser verdade! Tudo aquilo parecia um sonho! Passei um tempo tentando coordenar os fatos astronômicos inexplicáveis observados recentemente e acabei chegando à mais terrível conclusão de minha vida. Vi Ágata chegando naquele instante. Sim, já sabia o que estava acontecendo. Tudo de encaixava nesta explicação. Precisava contar a ela, por mais doloroso que isto fosse.

- Ágata, eu já sei o que está acontecendo. – começo a chorar.

- Benzinho, posso te esclarecer tudo. Pode parecer estranho, mas tudo é explicável!

- Deixa eu começar desta vez, tudo bem?

Vi medo em seu olhar. Mas ela parou e sentou-se para me ouvir.

- Lembra daquele por do sol que nós vimos? Que logo foi seguido pela lua cheia nascendo? Então, na hora achei tão fantástica aquela coincidência que nem pensei que pudesse haver algo errado. Mas agora sei o que é.

- Querido, naquele dia, sabe... Estão acontecendo alguns fenômenos astronômicos peculiares ultimamente... a supernova Eta carinae, lembra? Explodiu.. e o eixo da terra, por exemplo...

- Ágata, por favor, não precisa inventar nada. Eu sei o que está acontecendo!

- É que a explosão da Eta Carinae fez com que...

Desta vez eu coloco o dedo em seus lábios, não podia suportar uma astrônoma contrariando todos os seus princípios para tentar explicar fenômenos que definitivamente não podiam ser explicados.

- Ágata, por favor! Eu sei: a lua nunca nasce no oeste! Nada nasce no oeste! A lua não podia começar a subir do mesmo ponto em que o sol desceu minutos atrás! Nada faria o eixo de rotação do planeta girar 180 graus em questão de minutos, nem inverter o sentido de rotação de uma hora para outra. E mesmo que algum fenômeno tivesse uma ínfima chance de fazer isto acontecer, com certeza não seria de uma forma imperceptível! Haveriam marés gigantescas, talvez o próprio planeta se partisse com o turbilhão que se formaria no magma líquido em seu interior! Lógico, isto supondo que algo fosse capaz de inverter o sentido da rotação de tal forma... Não, Ágata. O que estávamos vendo era impossível de acontecer.

Ela chorava sem parar.

- Tem outra explicação, amorzinho! Ainda não sabemos como, mas...

- Ágata, não faça isto! Já sei de tudo!

Ela me abraça bem forte. Eu continuo.

- Depois, tem Andrômedra. Óbvio que ela não é visível a olho nu! Não daquele tamanho! E nenhum cataclisma cósmico seria capaz de deixá-la tão próxima de nós de um dia para o outro!

- Tem as lentes gravitacionais, já ouviu falar? – ela atropelava as palavras em desespero. – Por pouco tempo, sabe... Uma coincidência... como se fosse um telescópio gigante.

- Ágata, não precisa fazer isto. Não tente forçar explicações absurdas, minha linda! Esta claro agora: eu só vi o que queria ver!

Ágata me abraça mais forte, tenta me beijar, para que eu me cale.

- Não continue! Pense só em nós! Está acontecendo uma coisa tão bonita entre a gente, não é?

- Bonita demais, Ágata! Perfeita demais! Como num sonho.

Ela se afasta com um empurrão.

- Tudo isto é um sonho, Ágata! Este céu sempre límpido e perfeito, esta grama, este mar, você... Lembra daquele dia em que nos amamos aqui mesmo onde estamos agora? Depois vimos o sol nascer, não é mesmo? Mas... no oeste? Impossível, Ágata. Só vimos aquilo que queríamos mesmo ver! Porque era tudo um sonho.

- Por favor, pare agora!! Não queria que você descobrisse isto nunca! Eu te amo!

- Eu também te amo, Ágata! Mas estava tudo perfeito demais, não é mesmo? Porque era um sonho! Nada disso existe: este mar não existe, este mirante não existe, este céu não existe. Me dói muito chegar a esta conclusão, mas... Ágata, você também não existe! Nesses dias todos eu estou apenas sonhando com você, não é?

Ela se levanta. O tempo mais uma vez fecha naquele mirante geocêntrico. Ágata tenta correr, mas para a poucos metros.

- Você entendeu tudo errado! Não é nada disso!! O que eu sinto por você existe!

Começa a chover forte. E o surge o carrilhão infernal. Ágata chora aos soluços.

- Querido, é exatamente o contrário!! VOCÊ é que não existe! Sou EU que estou sonhando com você esses dias todos!!!

O chão foge de meus pés, me sinto caindo num abismo sem fundo. A chuva preenche todos os espaços à minha volta. Novamente me sinto perdendo a consciência, mas desta vez a sensação é muito pior: sei que é definitivo!!

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Ágata acorda e joga para longe o barulhento despertador de corda sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Era único objeto barulhento o bastante para fazê-la acordar todas as manhãs. “Maldito relógio barulhento!! Tomara que tenha quebrado de vez!”


Olha para os esboços pregados na parece. Ela nunca havia sido muito boa em desenhar retratos, mas dava para reconhecer neles o rosto do namorado de seus sonhos. Voltaria a vê-lo? Ela tentou nas noites seguinte, mas o mirante sempre estava vazio. Desistiu. Lógico que ele não apareceria mais! Não deve ser fácil para ninguém descobrir que não existe, exceto nos sonhos românticos de uma astrônoma carente. Mas ela poderia ter sido mais cuidadosa, não é mesmo? Talvez conseguisse sustentar aquilo por mais tempo, se pelo menos tivesse dado um nome a ele.


Mais uma noite ela volta em sonho ao seu mirante geocêntrico. Senta-se no banco de madeira. Está só, desolada! Pensa em pular no precipício à sua frente. “Que besteira, Ágata! Isto é um sonho! Acha que vai acontecer alguma coisa?” Óbvio que nada aconteceria. No máximo ela acordaria sobressaltada, como é comum acontecer quando sonhamos com quedas.


Mas desta vez ela percebe algo debaixo do banco. Um manuscrito? Começa a folheá-lo. Há uma dedicatória: “À minha amada Ágata, caso não nos encontremos mais. De seu amado ______ (por favor, dê-me um nome!)” Que grande coincidência ela encontrar uma caneta em seu bolso! Bom, Ágata nem fica tão surpresa com isto: ela está no meio de um sonho lúcido, pode controlar tudo que acontece nele. Inclusive fazer aparecer uma caneta em seu bolso. Ela pensa, preenche a lacuna. “Ah, agora pelo menos posso lembrar de você com um nome, meu amor!” E começa a ler:



Não conseguia imaginar um ponto de observação astronômico melhor que aquele. Com aquele céu límpido pontilhado de estrelas era impossível não ter a ilusão perfeita de estar no centro de uma gigantesca abóbada, observando o resultado de um mecanismo oculto atrás de uma parede inatingível...


FIM

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